Turismo inclusivo para pessoas com autismo: veja relato de uma família e iniciativas da área

Turismo inclusivo para pessoas com autismo: veja relato de uma família e iniciativas da área Foto: acervo pessoal

A família de Davi Ramos, de nove anos, adora viajar. No calendário, pelo menos duas viagens já são previstas anualmente: durante as férias de julho e no final do ano. Entre as preferências, estão as praias e a região Norte do Paraná, para visitar a família. Na hora de programar os dias de lazer, descanso e novidades, eles precisam de algumas preparações a mais no checklist, como explica o empresário Tales Ramos, que é pai de Davi.

A criança, que está no espectro autista, tem dois irmãos: Breno, de 15 anos, e Luana, de 26. Karla, a mãe, é mais uma integrante da família que se junta às conversas para os planejamentos das viagens, que começam bem cedo. Isso porque é importante que Davi saiba todos os detalhes da programação, como os lugares que vão, pois assim ele pode se preparar e levar coisas específicas, dependendo do destino.

Do grupo, Davi é o mais tranquilo no trajeto de carro. Tales acrescenta que a comunicação com as pessoas que estarão no destino também é muito importante, para que todos entendam e aceitem as particularidades do comportamento dele.

“Procuramos não parar em locais que possam gerar um hiperfoco nele e talvez desorganizá-lo, como lugares com muitos brinquedos ou piscina, por exemplo, que precisa ser no destino final. Se no local onde iremos tiver piscina, e não for possível entrar logo, é melhor não deixar que ele veja. Tem que desviar a atenção e só permitir que ele veja a piscina quando realmente for possível entrar”, compartilha.

Sobre esse ponto, uma situação em um resort foi desconfortável para a família. Era um passeio de um dia e, ao ver a piscina, Davi já queria entrar. Mas todo mundo precisava esperar o passeio guiado por todos os outros locais do hotel até que esse momento fosse possível. Embora os pais tenham tentando explicar a condição do filho para a guia, não houve negociação, já que esse pequeno ajuste de rota não estava “previsto no protocolo”.

“Na minha visão, os lugares ainda têm que melhorar muito em relação à adequação, tanto de estrutura quanto de pessoal. Já passei por lugares que oferecem uma fila preferencial, que têm um símbolo do autismo demonstrando que o local entende a preferência, mas até mesmo quando tem isso as pessoas ainda não estão preparadas. Confesso que nas viagens que fizemos não encontrei locais específicos adaptados. Até mesmo nas operações de verão, na praia, que poderiam ter atividades ou espaços com adequação”, comenta Tales.

Família de Davi./Foto: acervo pessoal

Apesar dos desafios, a família de Tales, Karla, Davi e os irmãos espera que as coisas evoluam, pois consideram as viagens algo muito importante para o desenvolvimento e bem-estar do caçula.

“Para ele, até o arrumar as malas é um momento bacana. A preparação da viagem, os locais que visitamos, as imagens que são gravadas, o convívio em família, as sensações que ele tem e tem conosco. As memórias que ficam, pois ele tem uma memória absurda e lembra de coisas e fatos que, às vezes, passaram despercebidos por nós. Viajar e, principalmente, viajar em família é especial”, defende o pai.

Turismo inclusivo: direitos e empresas que buscam avançar sobre o tema

O “Abril Azul” é uma campanha que estabelece o Mês de Conscientização sobre o Autismo. Este ano, o tema é “Valorize as capacidades e respeite os limites”, que traz uma abordagem sobre a importância de reconhecer e respeitar as habilidades e as particularidades de cada um.

No contexto do turismo, isso inclui ser atendido com empatia por profissionais treinados para compreender as necessidades específicas de pessoas que estão no espectro autista, gratuidade na entrada de pontos turísticos, reserva de assentos em transportes rodoviário, ferroviário e aéreo, assim como prioridade no check-in em hotéis, portos, rodoviárias e aeroportos.

“É essencial que as medidas sejam pensadas em todos os aspectos, desde a redução de ruídos, isolamento acústico e diminuição de ecos nas hospedagens, até a utilização de figuras e símbolos para ilustrar explicações verbais que facilitam a compreensão e interação. Tudo isso proporciona não somente inclusão, mas segurança e tranquilidade ao viajante”, finaliza Joselia Gärtner de Freitas, diretora comercial da Turismo DKlassen.

De acordo com a lei brasileira, pessoas que estão no espectro são consideradas pessoas com deficiência e, portanto, têm garantido o acesso igualitário à cultura, esporte, lazer e turismo, conforme estabelecido pelo Estatuto da Pessoa com Deficiência.

Nesse contexto, o turismo desempenha um papel fundamental na promoção da inclusão social e no desenvolvimento individual. Dados da pesquisa “Turismo Acessível: Mapeamento do Perfil do Turista com Deficiência”, realizada em 2023 pelo Ministério do Turismo (MTur), mostram que o grupo de pessoas com deficiência intelectual, mental ou transtorno do espectro autista é aquele que mais viaja acompanhado.

Por isso, algumas normativas municipais e estaduais estabelecem direitos específicos para esse grupo em relação ao transporte público e turismo, incluindo prioridade de acesso e adequações em locais turísticos. Em relação ao transporte aéreo, embora a passagem da pessoa com autismo não tenha desconto, a do acompanhante tem.

Além desses exemplos relacionados ao transporte, empresas como a Royal Caribbean oferecem programas personalizados e serviços adaptados para passageiros com autismo e suas famílias.

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